quinta-feira, 19 de agosto de 2010

...Te Dedico

Fui como você um dia....


Me resguardei numa couraça pois, o mundo me fora cruel e impiedoso.... Vivi meus dias atravessando paredes, diluindo-as com minha acidez mordaz... E protegendo com espadas, não com afagos, meus bens de valor... Nutria pois, um imenso orgulho disso...

Ignorei a beleza do simples e do pueril, sufoquei lembranças, desmereci valores, pois poderiam causar rombos pérfuros em minha armadura e me deixar vulnerável pelos flancos, já que meu elmo tão seguro, só me permitia ver o que havia pela frente...

Fui um guerreiro impecável, venci batalhas, sangrei inimigos, ou civis pelo caminho, em nome da minha segurança... E dos meus...

Minha orbe se perdeu da cor, do brilho, do encanto, da generosidade e da graça...

E acreditei que era o caminho...

E mundo me cobrou...

Me tirou tudo o que eu tinha de mais precioso, paguei o preço pela força, pela couraça e pela segurança da ausência da dor, com um vácuo e uma falta inconsistente...

Meus tesouros mais bem guardados, se foram, criaram pernas próprias, me abandonaram... Eu já os havia abandonado bem antes, confesso, em nome da couraça, sem me dar conta... Justificando a proteção...

Perdi tudo em nome do medo da dor e do preço pela couraça...

O mundo me arrancou, não o mundo, pois ele não é um velhinho de barba castrador, o mundo se faz presente na terceira lei de Newton... Logo, arranquei meu ar, minha essência e me perdi do que era, somente por medo da dor das perdas, e da segurança, perdi tudo...

Olho pra você e me vejo em outros tempos... Em dois momentos distintos, contudo meus, em outros tempos...

E temo por ti...

E sofro...

E há medida e limite para todo o sofrimento...

O meu por ti, se aproxima do limiar... É profundo o que vejo abaixo desta linha... E é como se um pedaço de mim, pudesse precipitar-se também...

Embora, eu vislumbre na beira desta soleira funda , um menino, num jipinho de madeira, conversando fabulosamente com um simples e sapiente avô, que ensinava a real e dura vida, atravessada por fábulas doces, para que ao crescer, este mesmo menino, descartasse a couraça que o mundo sórdido lhe tentasse presentear... E pudesse viver o que coubesse em sua essência de fato, e pudesse fazer do mundo, um lugar mais puro e acolhedor... Sufocando o perverso, alimentando o nobre e o auspicioso... Tamanha a inteligência e astúcia que que possuía...

Hoje, após minhas perdas, entendo os atos do mundo, ao me arrancar meus tesouros... Pois teimei em manter meu elmo bem preso à fronte, por conta da segurança que acreditava existente...

Abro minha janela, e ouço o vento, o som dos pássaros... Procuro meus tesouros em vão... Sem o Elmo, no entanto, os enxergo, mas já não os alcanço, tão pouco, as verdadeiras e sutis felicidades que habitam no simples... Entretanto as vejo, elas estão lá...

E dor maior é a de não poder alcançá-las...

E me deparo com a lembrança da menina de longas tranças, perguntadeira, com camiseta de malha e transfer da formiga atômica, que não parava quieta e queria comer o mundo com as mãos se lambuzando e aprendendo e perguntando e futucando... Se banhando em felicidade simples....

E choro prantos sem fim, por não ter entendido antes e após, tão tarde demais, que o elmo, a couraça e a armadura, assassinaram a única e nobre segurança que o mundo me presenteou...

Portanto, não deixe o menino do jipinho de madeira, nem o da foto 3x4, nem as lições do vô Vicente se perderem dentro do ferro que te oprime em nome da segurança e conforto que pseudo te sugerem...

Deixa um arzinho aí dentro pra que eles possam respirar e para que, de alguma forma, vc ainda saboreie e sinta o gosto e o cheiro da verdadeira felicidade... Antes que o mundo te tome teus tesouros, como tomou os meus... Não, me perdoe, eu não desejo que isto aconteça, mas eu temo muito que sim...

Deixo aqui, um relevo da patinha da raposa em tua alma, com os resquícios empoeirados do que ainda me resta da lembrança de meus bens mais preciosos, e te dedico...

Ravenfox...







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